sábado, 13 de agosto de 2011

A crítica do professor Abel Dias Ferreria e Gil Vicente

Como a crítica sábia do professor Abel Dias Ferreira apanha o simbolismo lembrando Gil Vicente.

"Acabei de ler o romance do (...) Pedro Guilherme-Moreira.
Ao acabar, tive a estranha sensação da urgência de reiniciar a leitura.
É que, como diz o grande escritor, “a memória ocupa-se do acessório e apaga o essencial” (página 57). Não sei se apaguei o essencial ou se quis reter o todo. E o todo é difícil de reter, sobretudo quando me surge aos olhos e à alma como essencial. Não tive, pois, acessório para alcandorar a memória. Certamente culpa do autor que desconjunta juntando a essencialidade da vida na “pior de todas as comoções, a esperança (…)” (página 197). Por vezes, e é bem verdade, queremos “ver pássaros e anjos, mas só se vê pessoas” (página 145). E ver pessoas, sinceramente, em muitos contextos, é perder a esperança. “Às vezes as pessoas fazem rugas no mundo, em vez de o alisar.” (página 31).
A dádiva de Deus, a visita, a purificação, a colheita, a guerra, a custódia, a sensibilidade, a paz, o trabalho, a nobreza e a mensagem divinamente alada constituem tipos impressionantes! Tangem Gil Vicente no plano, ultrapassam-no no redondo. Tudo num anverso e verso de um Janus circunstancial. Tudo num universo de consciências sem consciência de A a Z. Tudo num mundo em que “A morte é certa, e no entanto culpa-se quem morre por escolher quando.” (página 145)… decide voar.
Muito obrigado, escritor!
Muito obrigado!
Abel Dias Ferreira"


fonte da foto